FAMILIA II
24/9/2018

A minha família, como quase todas as famílias mineiras, era enorme:

13 pessoas:

Pai, mãe e 11 filhos.

Hoje somos, apenas 2: minha irmã Maria Helena e eu.

Nosso pai casou-se tarde, com minha mãe que era 20 anos mais nova que ele.

Autodidata, aprendeu odontologia, música, farmacologia, marcenaria, ouriversaria, etc. e, nos fins de semana, ainda viajava com seu projetor de cinema, exibindo filmes nas cidades próximas.

E lia.
Muito.
Sempre.

A mãe, analfabeta, aprendeu a ler e a costurar com ele.
Jamais teve empregadas domésticas.
Cuidava de tudo, sozinha e com mão de ferro.
Aliás, para educar 7 meninos rebeldes, só mesmo com mão de ferro.

As meninas quase não davam trabalho

Papai, como já disse, pouco se metia.
Deixava nas mãos da “baixinha” o chicote disciplinador.

E ela não se fazia de rogada.

Depois, chorava pelos cantos da casa.

Mais tarde, todos nós agradecemos pelos castigos recebidos, que eram sempre compensados com carinho e bons exemplos.

Papai tinha como “hobby”a música.
Seu gabinete vivia cheio de instrumentos para consertar.

Seu instrumento era o violino, que muito raramente tocava.

De vez em quando a gente ouvia de dentro do seu gabinete o som suave do instrumento, ou de uma flauta de ébano que ele gostava de tocar.

Ele nasceu em Guiricema e lá foi um “faz tudo”: médico, dentista, farmacêutico, etc.,etc., além de cuidar dos instrumentos musicais.

Ele os consertava e, muitas vezes, construía outros, como aconteceu, certa vez, quando o órgão da igreja pifou e ele, em vez de consertar, construiu um novo.
E continuou a fazer a mesma coisa em Raul Soares, onde morávamos.

Muitos anos se passaram e, um dia, recebi uma correspondência me convidando para a festa de aniversário da cidade e eles queriam me fazer uma homenagem, dando meu nome à pracinha que ficava em frente à casa onde eu nasci, em cuja fachada iriam colocar:
AQUI NESSA CASA NASCEU O CANTOR SILVIO CESAR.

Cheguei alguns dias antes e, quando tive oportunidade, falei com o prefeito que, em vez do meu nome, mandasse colocar o nome do meu pai na placa da praça, o que seria muito mais justo, pelo tanto que ele havia feito pela cidade.

Ele concordou, mas insistiu com a placa na casa onde nasci.

Vejam o que aconteceu:

O nome completo de papai era Antonio Rodrigues Silva, mas desde
Guiricema, ele era conhecido como Antonio filho do Anastácio, seu pai.

Com o tempo, foi mudando, mudando e virou “Antonio Anastácio”.

No dia da inauguração da nova praça, quando o Prefeito descobriu a placa, lá estava com todas as letras:

PRAÇA ANTONIO ANASTÁCIO.



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