FAMÍLIA III
24/9/2018

Meus irmãos, pela ordem de chegada na terra, eram:

Antonino, que saiu cedo de casa para viver em Leopoldina, onde fez sua vida, teve filhos, netos e bisnetos.

Seu final foi trágico:

Por conta de uma gangrena no pé, agravada por uma diabetes teimosa, perdeu as duas pernas na altura do joelho.

A irmã mais velha, Raymunda, minha madrinha, que ajudou mamãe a criar os filhos e, talvez por isso, nunca se casou. Depois vem o Nilo. Um bicho do mato. Viveu sempre no interior de Minas. Quase não tivemos contato com ele.
Nasceu no dia do aniversário da nossa mãe, 24 de agosto.

A propósito, mamãe começou sua família em 16 de agosto, com o nascimento do Antonino - o mais velho e terminou comigo - o mais novo, em 14 de agosto.

Faleceu no dia 15 de agosto.

Continuando,

depois do Nilo, vem o Odilon, meu padrinho.

Era um ótimo alfaiate, mas não era feliz com a profissão.
Trocou para eletricista, ganhou menos dinheiro, mas viveu mais feliz.

Depois o Oswaldo, caminhoneiro por vocação, que sofreu um acidente na estrada e terminou seus dias com sequelas.

Em tempo: Oswaldo era lindo, com olhos azuis e uma voz tão maravilhosa que todos achavam que seria um cantor de sucesso.

A vida não quis.

Em seguida, vem uma menina: Oswaldina,
Tipo mignon, gênio forte, casou-se cedo.
O casamento durou 6 meses.
O marido contraiu uma doença misteriosa e ela enviuvou aos 17 anos.
Casou-se novamente com o dedicado Orlando, teve 3 filhos e muitos netos.
Em 2018 completou 94 anos de idade.

Depois da Oswaldina, mais uma menina: Teresinha.
Linda, linda. inteligente, estudiosa, iniciou-me nos mistérios do espiritismo.
Graças a ela, adquiri os conhecimentos necessários para saber a diferença entre ciência e religião espírita.
Sem isto jamais alguém poderá compreender o que é o espiritismo.

Faleceu estupidamente, num choque anafilático.

Depois vem o Anastácio, que tinha horror ao seu nome.
Quando ele e o Edson, que é o próximo, resolveram montar um grupo
vocal para cantar na rádio em Juiz de Fora, ele trocou o nome para
Paulo Roberto.

Aconteceu com ele uma coisa desagradável:

Certa vez uma brasa caiu em sua mão esquerda e ele, apavorado, colocou-a na água.
Os dedos mínimo e anular encolheram e não voltaram mais para o lugar.
Mas isto não o impediu de tornar-se um grande violonista.

E um grande pai de família.

Com seu trabalho de eletricista de automóveis, criou e educou seus
filhos, colocando-os e mantendo-os em faculdades até se formarem.

E eles não o desapontaram. Tornaram-se grandes profissionais.

Depois vem o Edson. Um gênio. Trabalhava com eletrônica e ajudava o Anastácio ( digo, Paulo Roberto ). Mente inquieta se interessava por tudo.
Músico autodidata, aprendeu a tocar violão com 10 anos de idade e gostava de cantar. Formou, com o irmão Anastácio ( Paulo Roberto ) e amigos, o grupo vocal “Seresteiros Tropicais” e se apresentavam na rádio em Juiz de Fora.

Com muito sucesso, diga-se.

A vida o castigou severamente:

Por causa de uma infecção na garganta, perdeu a voz e terminou seus dias sem falar.
Seu consolo ficou sendo o violão, que ele manejava divinamente e o computador, ao qual se dedicou e com o qual realizou lindos trabalhos musicais.

E em penúltimo, a Maria Helena.

Assim como o Oswaldo, com uma linda voz, cantava na rádio em Juiz de Fora, mas não teve paciência nem temperamento para a profissão de cantora e abandonou cedo uma carreira promissora.
Mais tarde, confirmando sua veia artística, dedicou-se à alta costura e desfrutou de anos de sucesso e reconhecimento.

Ela, também sofreu seu castigo:

Sua audição diminuiu. Felizmente um aparelho auditivo amenizou seu sofrimento.

Recentemente, revelando outra de suas facetas artísticas, dedicou-se a pesquisar sobre a nossa família e escreveu o livro “Um olhar além das montanhas de Minas”, um relato meticuloso e emocionante da nossa história, escrito com todo cuidado, amor e sensibilidade.

E por último este que vos fala.

Quando nasci, papai estava com 60 anos e mamãe 40.

Hoje isto não é nada, mas naquele tempo era muita coisa.

No mínimo, uma aberração.

Como dizem, fui a "raspa do tacho".
Temperamento arredio e solitário, aprendi a ler e escrever, por minha conta, aos 5 anos.

Mas não vou continuar a falar de mim.
Minha profissão me transformou numa figura pública e qualquer pessoa, a qualquer hora, pode pesquisar minha história e conhecer minha vida.

Como foi visto, a história da minha família é semelhante à de muitas famílias.
Cada uma com suas características.

Quero, apenas, fazer uma reflexão:

Será que se fosse hoje, com os avanços da ciência e da tecnologia,
mais o dinheiro ( que nunca tivemos ),

o Antonino não teria perdido as duas pernas?
O Oswaldo não teria se curado?
A Terezinha ainda estaria entre nós?
O Anastácio teria recuperado os dedos?
O Edson recuperado a voz?
A Maria Helena, a audição?


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